ALUNO, PORÉM POETA!


O que mais me admira na arte é  o olhar sensível que ela nos proporciona. Felizes somos nós artistas que não temos medo de falar o que temos no peito. Felizes somos nós que temos muito que dizer, surpreender e emocionar.

Na última quinta-feira, quatro dias após o dia das mães, um aluno (o Sr. Fernando Salgado) em meio à lágrimas nos leu esta poesia, relembrando os 10 anos do falecimento de sua mãe e, emocionou os demais alunos de contação de histórias.

FALANDO COM MINHA MÃE

Dez anos depois de sua morte, você ainda vive em meu coração. Vive, cada dia mais, não morrerá jamais. Parece-me que o quadro de sua vida, o panorama dos seus trabalhos, o cinerama de suas virtudes exigem distância, muita distância, o foco de dez anos, para que se veja e se saiba quem a senhora foi, quem é a pessoa de cada mãe.

Quanto mais cresço, mais falta sinto da senhora, mais necessidade tenho de ser seu filho. Antiquada em seus métodos, a vida ensina sabendo. Apanhando, o coração reflete, ajuíza, conclui, torna-se sábio, termina paciente e bom. Assim convertido, volta aos caminhos de outrora, os seus caminhos de mãe. Sim, viver é converter-se às velhas teses de uma idosa mãe.

A mais, com o andar dos anos, com a célica saturação do barulho, a gente reverte a paz dos grandes silêncios, ao silêncio das longas orações, à oração do confiado amor de Deus. Em tais alturas, onde moviam as mães, consegue-se ver claro o que a senhora fez, o que pode e, o que mereceu e o que merecem as mães.

Perde o atraso da minha descoberta, o que quase não deixa tempo para agradecer-lhe tudo que andou fazendo por mim. Velou-me a fonte da vida, embalou meu primeiro berço, teve anos de paciência, repetiu-me a cartilha da educação e os rudimentos da fé. Fez-se criança comigo, esquecida de tudo, lembrava apenas de mim. Agüentou calada, bondosa e firme os arroubos de minha adolescência, as naturais desconsiderações de minha juventude.

Assistiu feliz e prudente aos novos lares que iam surgindo dentro de nosso lar. De mãe cansada, passou a avó paciente, sabendo o seu lugar, contornando, conciliando em favor da paz, sempre na meta do amor.

Anos depois, velhinha, de passos prudentes e falas poucas, era a mansa encarnação da paz. Estátua viva da bondade, talhada em gesso velho. Parecia sempre ter muito que contar. Ela que tanto ouviu e viu, tanto aprendeu, tanto fez, tanto sofreu. O tempo que tão depressa passava, para ela parecia não passar, quando se punha a falar-nos do tempo que passou.

Ensine mar até o fim. Não desista de ser professora, que seu filho não para de ser aluno, nunca lhe faltando às aulas. Houve tempo que a senhora me falou muito de Deus. Houve tempo em que a senhora falou muito de mim a Deus. Hoje sem falar, a senhora me prova Deus, me pede e me ensina a encontrá-lo cada vez mais.

A luz da fé, esta única realidade que sempre vale na paulatina desvalorização da vida. Aceite minha gratidão. Perdoe o meu atraso. No fundo a senhora sabia que a gente venceria na vida porque jamais duvidou de nenhum dos filhos que Deus lhe dera. Filhos que dera de volta à Deus.

Essa rosa que te deixo, aqui em sua campa, sugere que fui espinho e que a senhora foi uma flor na minha vida. Errei trazendo uma rosa cortada, deveria plantar uma roseira aqui aos seus pés para que soubesse sempre o que penso da senhora e quanta gratidão lhe tenho. Agora, que amos se vêem, fale com Deus de mim, fale de nós, fale do mundo dos homens, fale de todos e de cada um dos homens do mundo.

Aula de Contação de Histórias Aluno Fernando Salgado, Prof. Sol Borges.

PARABÉNS!

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